1. As duas construções estão correctas.
2. Em português europeu, a expressão exclusiva da posterioridade em relação a um dado ponto de referência raramente recorre ao futuro simples. Este tempo verbal está associado a valores modais de probabilidade, possibilidade, hipótese. Para designar a posterioridade recorre-se ao presente:
«Amanhã termino o relatório.»
— quer recorrendo à perífrase ir + infinitivo:
«Vou contratar um advogado.»
No português do Brasil, o futuro simples para exprimir uma acção futura é de uso mais frequente.
3. No que respeita ao tempo do verbo auxiliar ir, verifica-se a ocorrência do presente e do futuro com idênticos graus de incidência no português europeu e no português do Brasil, pelo menos no que toca ao uso escrito da língua.
Quer numa quer noutra variedade, a opção pelo futuro no auxiliar está associada à marcação de matizes modais:
«O protocolo prevê a execução de vinte e oito projectos, que irão movimentar cerca de oito milhões de contos» — o locutor/emissor apresenta a acção como o resultado de um cálculo;
«(...) os seres humanos irão entrar numa nova forma de existência eterna depois da morte» — o locutor/emissor apresenta a acção como o resultado de uma profecia/crença;
« (...) mandadas fechar as capoeiras da Rua Augusta e da Rua da Prata... e como até agora as autoridades não hajam fixado bairro às cidadãs, estamos sem saber onde irão elas parar com os costados» (Fialho de Almeida, Gatos) — o locutor/emissor marca desconhecimento face à realização futura da acção;
«Montamos um esquema em que os próprios familiares irão pressioná-los a colaborar com o nosso lado» (Pedro Corrêa Cabral, Xambioá: Guerrilha no Araguaia) — o locutor/emissor apresenta a acção como ponderação de uma consequência.
4. Há ainda a considererar o futuro histórico (ou futuro dos historiadores):
«O batalhão irá dizimar o adversário impiedosamente.»
Os exemplos do ponto 3 foram retirados de Corpus do Português Mark Davies/Michael J. Ferreira