O nosso idioma - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de investigação/reflexão sobre língua portuguesa.
«O quê que é que você está dizendo?»
Realce e queísmo

«[U]samos que demais quando falamos e escrevemos. Sobre isso, há até um nome para o fenômeno (que não deixa de ser um vício de linguagem): queísmo.» Este é um dos esclarecimentos que o linguista brasieiro Jefferson Evaristo dá sobre o excesso de que, induzido pela sua produtividade como marca enfática no discurso corrente, num apontamento publicado no mural Língua e Tradição, no Facebook , com a data de 29 de março de 2024.

Aforismo
A expressão de preceitos

O que são aforismos? Em que se distinguem dos provérbios, adágios ou máximas? A professora Carla Marques aborda estas e outra questões no seu apontamento dedicado aos aforismos. 

Do preconceito com «o mesmo»
Uma condenação discutível

«É verdade que todo exagero deve ser combatido, desestimulado. Todavia, se abusam de “o mesmo”, a solução não necessariamente é condená-lo como fraco recurso: da mesma forma, abusa-se dos pronomes pessoais retos, mas ninguém diz que devam ser completamente eliminados do texto».

Considerações do escritor e revisor  brasileiro Gabriel Lago sobre a censura de certos gramáticos prescritivos ao uso de «o mesmo», num apontamento transcrito com a devida vénia do mural Língua e Tradição (Facebook, 23/02/2024).

 

Concisão é uma virtude humana
Entre o laconismo e a prolixidade

«A concisão também é uma virtude – e está a meio caminho entre o laconismo, de um lado, e a prolixidade, de outro. Se queremos ser compreendidos por nossos interlocutores, buscar a concisão é da máxima importância.»  Com estas considerações, o tradutor e revisor de William Cruz dedica um apontamento à importância do estilo conciso, nem escasso (lacónico) nem abundante (prolixo) em palavras, de modo a conjugar clareza e brevidade na expressão verbal. Uma publicação de 31 de outubro de 2021 do mural Língua e Tradição, no Facebook.

A rebeldia dos autores antiparalelos
Variações estilísticas sobre a simetria sintática e o paralelismo semântico

Há escritores que sabem subverter com criatividade certos critérios de correção sintática e semântica, como é o caso do paralelismo de construções como «escolher entre amar e trabalhar muito» (melhor que «escolher entre o amor e trabalhar muito»). Um apontamento da autoria da brasileira Lara Brenner, advogada e professora de Língua Portuguesa, e publicado do dia 10 de julho de 2020 na página de Facebook de Língua e Tradição.

Todos inocentes, todos cúmplices
Uma evocação do autor da celebrada frase «O óbvio ululante»

Nelson Rodrigues (1912 – 1980)  –  dos mais talentosos e criativos escritores em língua portuguesa (foi jornalista, romancista, folhetinista, ainda hoje considerado o mais influente dramaturgo do Brasil)  – recordado neste  artigo de Ruy Castro  sobre a sua faceta mais conhecida de cronista de costumes e de futebol. «O sol de derreter catedrais» ( para definir o Rio de Janeiro no verão), «Os jovens têm todos os defeitos dos adultos e mais um − o da inexperiência» e «O óbvio ululante» foram algumas das saborosíssimas frases de toda uma galeria de imagens e expressões ainda hoje celebradas. 

in Diário de Notícias de 2 de fevereiro de 2019

Quando as metáforas deixam de ser metáforas
Os danos físicos da agressividade verbal

Numa visita que fez ao Bangladeche, o papa Francisco equiparou a maledicência ao terrorismo e certas palavras a armas de destruição. A ideia encontra apoio na investigação científica, que aponta para a capacidade da agressividade verbal de se repercutir nas nossas redes neuronais como um verdadeiro dano físico interno. Terá a metáfora papal tanta realidade como um murro na cara? A linguista Ana Sousa Martins comenta a questão, no apontamento que se segue, lido na rubrica "Cronicando" do programa Páginas de Português, emitido na Antena 2,  no dia 13/01/2019.

As palavras podres
O atroz fingimento da espontaneidade

Miguel Esteves Cardoso reflete sobre as palavras que se gastam devido à repetição excessiva. Este uso automático parece condená-las ao esvaziamento e, consequentemente, levar à inexistência de verdadeira comunicação. Crónica publicada no  jornal Público de 20 de novembro de 2018, tendo-se respeitado a grafia segundo a norma ortográfica de 1945.

Do adjetivo *

Sobre o adjetivo, essa «palavra sem a qual o substantivo seria impreciso, vago, indefinido, amorfo» – com se lhe referia o filólogo e gramático brasileiro Carlos Góes, em artigo publicado na Revista de Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, 1921) com o título Do Adjectivo, a seguir transcrito do terceiro volume da antologia Paladinos da Linguagem (edição Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921), organizada por Agostinho de Campos. Manteve-se a grafia e respetiva norma originais.

E falar português, vai desejar?

« (...) Os portugueses de hoje não querem, não são, não têm, não fazem. Desejam, constituem, possuem, elaboram. Só se exprimem verbalmente de duas maneiras: ou dizem "Eu não tenho palavras", ou mais valia que as não tivessem, porque arrebitam a linguagem até ao ridículo. A utilização saloia do inglês também é típica destes tempos: por que é que escrevemos on-line quando não dava trabalho nenhum escrever "em linha"?  (...)  Ele é o retail park, o express shopping, as férias low cost (esta é particularmente significativa: nenhum português faz férias de "baixo custo" ou "baratas"; mesmo que as passem na Cova do Vapor, passam-nas em inglês). (...)»

[Crónica sobre o "policiês", os anglicismos a eito e o falar rebuscado em geral no espaço público português. Publicada pelo autor, ainda em vida, primeiro, no jornal Público de 24 de julho de 2010 e, depois, integrada no livro Ouro e Cinza (Tinta da China Edições, 2014). E recordada, em sua memória, na rubrica da Antena 1 A Contar, de David Ferreira, no dia 3 de maio de 2016, que aqui se deixa também disponível.]